sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Me pergunta o que eu queria ser.

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Já perguntou?Bom,lá vai.

Eu queria ser um desenho animado.Sim,desses bem antigos,de preferência da época que TV era em preto e branco.

Eu queria ser um desenho animado pra poder ser mais leve,não levar a vida tão a sério.Eu queria que ao final de um dia de trabalho,eu pudesse ver que na verdade,foi mais um dia de alegria e diversão,sem o sentimento de obrigação.

Desenhos não se machucam,não sangram,não sentem dor.O que acontece se um machado cair na cabeça?Se partem no meio,óbvio.Mas eles não morrem,nem se machucam nem sangram.As duas metades se juntam novamente como num passe de mágica.

E se alguém der um soco?Eles voltam como um João bobo,e batem de volta.Simples assim.

E se eles cairem de um precipício?Basta estender meus braços que começam a voar.Voar..Voar.Se não voarem?Soltam uma onomatopéia e tudo certo.Não quebram nada,não se machucam,nem sangram.

Tudo é possível pra um desenho animado.Dá pra se transformar,se moldar,se adaptar e ser quem eles quiserem.Graças às ferramentas mágicas do lápis e borracha.

Se não gostarem da história,do episódio,ou capítulo do dia,é só apagar e recomeçar.E desenhar,e colorir e revivier tudo de novo como num lugar em que tudo é possível.

Eu queria ser invencível

sábado, 25 de dezembro de 2010

3 coisas que eu gosto,2 que eu não gosto,e uma que é uma droga.

Ser visita...vai dizer que não é bom?Mesmo quem não é folgado gosta das regalias.Você chega e é recebido com um "fica a vontade" ou "a casa é sua".Tão bom...Você diz que deu uma sede,e a pessoa diz "ah,deixa que eu pego alguma coisa pra você beber!Olha,tem coca zero,comum,guaraná,vinho,champagne,suco,vitamina,energético,laxante (...)".E nem vou falar quando dá a fominha.Só falta ter cardápio.
Mas bom é ir no banheiro.Sempre,na pia,tem um sabonete ressecado,todo cheio de rachaduras,e um sabonete líquido de erva doce da Natura.Quem é da casa,vai no sabonete ressecado.Mas nós,a visita,vamos direto no sabonete líquido de erva doce da Natura.Mesmo que esteja acabando,você pode usar a vontade.A casa é sua mesmo...

Claro,pra fazer uma média,você até oferece de lavar a louça.Mas se não lavar também,o anfitrião nem repara.
Mas que fique claro.Isso tudo acontece quando você é convidado.Se você faz essas coisas quando você é convidado de um convidado(alguém de chama pra ir na casa de alguém que você mal conhece,mas que tá tudo bem,fulano é gente boa),aí fica chato né.

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Casca de pão.Tá aí uma coisa que eu adoro.

Sabe o pão de forma?Sabe aquele pedaço que ninguém gosta?Sim,o pedaço que eu mais gosto.Não sei explicar,é uma coisa meio mística,sobrenatural,quase exotérica essa minha paixão pela casca do pão.Talvez seja por que o sanduíche fica mais bonitinho,todo redondinho,e o recheio não foge também.

A pena é que só têm 2 cascas pra cada pacote.Mas como ninguém gosta,meio que dá no mesmo.

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Receber e-mail/recado/comentário.Nossa!!Me dá um prazer incrível.Pode ser qualque coisa.Desde que seja PRA MIM.Mas vo falar.Nada como receber comentário.Não,não é uma indireta pra você escrever um comentário ao fim deste post.Só to abrindo meu coração mesmo...A-do-ro comentário.Em foto,em post,em qualquer lugar.Se você escrever "batatinha quando nasce se esparrama pelo chão" nos meus comentários,eu vou adorar.Mas que seja criativo.O comentário da batatinha já não vale mais.

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Não gosto de escovar os dentes.

Calma,eu pratico minha higiene bucal regularmente.E nunca tive cárie(bom,não sei agora,da última vez que fui ao dentista tava tudo certo).


É culpa da baba.Sim.A BABA.Quando se escova os dentes,fica aquela coisa branca,espumenta,nojenta.Não suporto a baba.Tenho repulsa pela baba.ODEIO a baba.Nem consigo me olhar no espelho.Se eu olho,já fico com ânsia de vômito.Juro.Se eu insistir em me olhar,é capaz de eu vomitar na pia mesmo.E ter que escovar os dentes de novo.

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Recados mecânicos.Sabe aqueles recados que são pra 349 pessoas?Odeio.Poxa,por que a pessoa não escreve alguma coisa pra mim?Eu tenho que ser incluida numa massa?Num bando?Eu sou um indivíduo!!Única,não existe outra igual a mim no mundo!O ser mais raro,mais exótico,em extinção(por que só tem eu no mundo),mais diferente,e receber recado que mais 348 pessoas receberam.

Pura falta de criatividade.E preguiça.MUITA preguiça.

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Intimidade é uma droga.

Sim,é mesmo.Você dorme na casa de uma pessoa que você tem muita intimidade,é diferente.Enquanto você separa uma roupa pra sair,sua amiga aparece e pergunta "Como estou?" e você repara que está usando uma blusa sua.Usando e sem ter pedido.Mas por que isso acontece?Intimidade.Ela é tão sua amiga,que já sai pegando suas coisas,usando,e as vezes usa uma roupa que nem você usou.Mas a intimidade permitiu.Foi a bendita.

Em compensação,você pode abrir geladeira,armário,abrir o Cookies,comer tudo sozinho,reclamar que tá na sua vez de entrar no Orkut.
Bom,aí chega a mãe da sua amiga te dando uma bronca por que você deixou seu tênis no meio da sala,e ainda manda você varrer.

Intimidade é uma droga.

                                                                    ***

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Experiencias de uma boba



Existe uma contradição tradicional e ativa em ser assim.É coisa de berço,de quem nasce olhando pro céu,de gente que não sabe viver o óbvio,mas é óbvio.

Óbviamente falando...é coisa de gente boba.Uma bobagem,bobeza,bobilidade,bobidez.Quem é assim segue mais firme,segue sentindo a dor da luta,mas sempre seguindo.E a luta é inglória(como já disse uma certa pessoa),viver de poesia é viver na corajem,viver com suor no rosto,cara pintada e dedos calejados.

Mas,entretanto,todavia,contudo,however,acreditar que é possível é fazer nossas asas crescerem,se tornarem fortes pra voos cada vez mais altos.

Eu não faço testamentos,pois não tenho medo da morte.Meus sonhos vivem enquanto respiram,simples assim.Não se iludem,não se contradizem,nem se agridem.Eles são o que são,e o que eles são se resumem em serem verdadeiros.

A cada dia existe uma nova reflexão.Não,não como todos fazem.É ser diferente,ser artista,ser sencível aos detalhes que ninguém vê.E enquanto eu viver,vou ser assim.Ou pelo menos tentar.

O que importa mesmo,é não abandonar os ideais.Ideais de amor,arte,beleza,contentamento,mas sem esquecer das lutas,do suor,das pedradas,e das eventuais vaias.Que existem,e aparecem quando a gente menos espera.

Cultivar a semente que nos foi dada.Eis a nossa sina.Não basta recebê-la,deve-se planta-la,regá-la,cuida-la.E a nossa semente foi plantada,regada e cuidada,e hoje,podemos contemplar seu crescimento.Que não pára...mas sabendo que pode morrer sem continuarmos regando e cuidando.

Quem liga se somos vaidosos,que nos "achamos"?Bom,diante de tanta luta,esforço e sacrifício,temos esse direito.Cada espetáculo,cada aplauso,e cada "bravo" nos dá esse direito.Não,não estamos sendo metidos e arrogantes.Trabalho bem feito é trabalho reconhecido.E reconhecemos em nós o sucesso dele.A gente se acha mesmo,e assim,ninguém fica perdido.Nunca.

Os esquizitos são mais valorizados,os excluídos,os estranhos.A estes,damos microfone,importância,e são tidos como personagens de tão singulares.Caricatos,espontâneos,surpreendentes.Estes somos nós,e cada um com sua esquizitice,quanto mais estranho melhor.

Desculpem-me as minhas palavras,mas o que eu vou dizer é verdade.Que somos todos uns bobos.Uns bobões,que adoram as coisas mais bobas,que falam as coisas mais bobas,e fazem as coisas mais bobas.Um bando de bobos.E quem disse que a gente liga?

Ah nao,não ligamos.

Enquanto formos bobos,seremos artistas.Sempre.



Dedicado aos Loneiros a quem amo tanto.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Verso bobo

Eu ganhei um pé de açaí
Mas aí
Ele cresceu
E agora,que faço eu?
Tá uma árvore
Vou chamar um padre
Pra ele fazer uma oração
Mas pra que um sermão
Eu quero um vaso
Um jarro
Um jardim
E um banco
Pra deixar meu pranto
Minha saudade
Que invade
Que abraça
A minha casa
E o meu coração.

Quem acha
Que é um versinho bobo
É só mais um tolo.
Quem não sabe fazer verso não vive de poesia,não sabe o que é fantasia.
Mas só ve um preto no branco,sem encanto,sem luz.
Eu quero ser boba enquanto eu puder.
Eu quero ser poeta pra lua nascer
E se ela não nasce,o sol vem pra mim
E alegra o que a lua pensou dar um fim.

Mas que bobagem,que tolice!
Cá estou eu,escrevendo sandices.

Mas eu escrevo.
E escrevo.
E escrevo mais.

Na frente de um computador vou deixar registrado
Os devaneios de alguém que não sabe ser mais do que uma simples boba.

Tic-tac

Travo uma espera ansiosa,angustiante,e extremamente perversa.

O costume de saber esperar é o que falta no ser humano.E em mim,logicamente.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Reticências

Solus dum spiro
Meminero tui


Ps.Coisas a serem escritas.A minha mente não pára.Se ela se aquietar,eu posso trazer coisas novas.

Ps2. Não que muitas pessoas estejam interessadas,ou aguardando muito por isso.De forma alguma...

Ps.3.Bom,pelo menos EU aguardo muito por isso.E isso basta.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Ah...o verão!



Ah...o verão,época em que todos se sentem mais soltos,mais livres,em meio às férias e festas de fim de ano!

Época  em que o melhor lugar para se estar é dentro do congelador,e por isso,que todo mundo fica mais em dúvida na hora de escolher o que vai comer quando abre a geladeira.Não por que a indecisão aumenta,mas para aproveitar o geladinho.

Época das frutas!!Frutas que se estragam tamanho o calor!Não há banana que resista a uma temperatura de 38 graus.Nem as tropicais,feitas para esse clima calorento,sobrevivem.

É quando o suor que sai da testa passa pelos olhos.E quem usa óculos fica com uma espécie de piscina sudorípora na armação.As gotas que correm pelas costas,fazem uma correnteza em direção à roupa íntima,e nem quero falar das pizzas tamanho gigante debaixo do braço que ficam à mostra pra quem quiser ver.

No ônibus,é um caso à parte.Verão no ônibus é sinônimo de gente fétida,colada e melada sentando do nosso lado. Pior ainda se for gente gorda,por que aí te espreme e você é obrigado a ficar colado,melado e fétido junto com ela.Na hora de puxar a cordinha,um suplício.Suvacos molhados à mostra,como um varal.E nem todos limpos e cheirosos como deveriam.

Na praia é um festival de beleza.Bundas esburacadas,costas cabeludas,criança te jogando areia quando você acabou de se molhar.Camelôs andantes com suas propagandas bem elaboradas,gente conhecida que você nao tava a fim de encontrar e te chamam pra sentar perto,pagode/funk/sertanejo ligado como se todos gostassem.Pra voltar pra casa,aquele marvilha.Transito congestionado,o corpo cansado e morrendo por um banho,com areia em lugares que você nem imagina.

O verão  é uma época maravilhosa mesmo!Cheia de atrações,como shoppings que insistem em colocar patinação no gelo num país tropical.O resultado  é a pista derretendo,um festival de tombos,poças acumulando água na pista,criança chorando,pai pedindo o dinheiro de volta,uma alegria só.

Época das dietas!Claro!Melhor época,já que tem o Natal,Ano novo...e todo mundo respeita a dieta,como não?A mesa farta,com panetone,chester,peru,bolinho de bacalhau,arroz a grega,tender,farofa,molho rosê...só coisa ruim.Assim dá pra manter a dieta.

Época também,da reprodução dos mosquitos!Olha que beleza!A natureza se fazendo  viva a todo momento na hora de colaborar com esses insetos tão simpáticos que sugam nosso sangue e se alimentam da nossa paz.Zumbidos à noite,e pela manhã,o brinde!!Lindos calombos vermelhos e irritadiços aos montes.Uma delícia.

Ah...o verão!Não tem época melhor!!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Asas de um sonho ruído



Vou contar minha história.

Não é dessa que se causa admiração,mas ela é a minha história.

Tudo começou quando eu nasci.Claro...Todo mundo nasce um dia.E como todos,eu cresci debaixo das asas da minha mãe.Ela não me deixava ver o mundo com clareza,mas mesmo assim,quando ela saía pra buscar comida,eu colocava minha cabeça pra fora e eu podia ver como era lindo o mundo lá fora.

Meus irmãos,nunca ligaram.Sabiam que era mais seguro ficar juntinho um do outro,por que quando a mamãe não estava por perto,podiam aparecer predadores.

Mas eu sempre fui curiosa.Sempre quis saber como era sentir a brisa forte,e não atraves de brechas das asas da mamãe.Ver do alto,como é bela as pastagens,a floresta,poder fechar os olhos e poder planar,sem se preocupar com nada.

Mas meus irmãos estão certíssimos.Nunca se sabe o que pode acontecer se um filhote simplesmente sair do ninho.Muito perigoso...perigoso demais,principalmente pra quem nem sabe voar ainda.

Não sou imprudente.Sei dos perigos desse mundão. Também não quero me arricar...por isso que eu decidi que se eu não posso voar,entao eu vou aprender a cantar.

Assim eu comecei,e cantei tanto,mas tanto...não pros outros me ouvirem cantar.Mas por que eu queria retribuir a quem me deu o dom.Cantava pra ele,e ninguém mais.

Mas de tanto cantar,esses outros,começaram a ver q eu cantava diferente.Cantava com a alma,com o coração.

E aí eu saí do ninho.E fui pra outros ninhos,e cantei,cantei,cantei...

Quando eu me dei conta que já estava longe do meu ninho,era tarde demais.Já estava tão longe,que pra voltar só havia um jeito.Voar.

Mas eu não sabia voar...e consequentemente,não poderia voltar pra casa.

Nesse momento,lembrei dos meus irmãos,da minha mãe,que me protegeu tanto.Ela sabia que não era a hora de eu sair de casa.Mas eu não fugi de casa,que fique claro.

O fato,é que um passarinho que não sabe voar,ainda não está pronto para o mundo.Mas,pra mim,o mundo é muito traiçoeiro,seja pra quem sabe voar,e pra quem não sabe também(claro que pra quem não sabe,é pior ainda).

Eu sabia que quando eu voltasse pra casa,além dos abraços,e dizeres de saudade e amores,eu também iria ouvir as flechadas.Até por que,muitos me falaram pra não ter saído nem da primeira vez.

Mas eu amava cantar...amava soltar o que esteve preso por tanto tempo!!Eu queria que todos me ouvissem,e eu queria ver...sentir...conhecer algo novo...experimentar.E amei,como amei!Ter experiências que eu nunca tive foi algo mágico na minha vida.

Mas apesar de ter sido maravilhoso, nada como a nossa casa,nada como estar no lugar que você foi feito para estar.Eu senti muita saudade da época em que cantar  era pela emoção,e não pela obrigação.

É,eu sei o que deu em mim.Foi o  encanto do canto que me fez me afastar de casa.Agora,quero voltar mas não consigo.E eu não vou arriscar.Não vou tentar voar sozinha.Isso se aprende em casa,com mamãe...


...

...


...

Quando eu cheguei,senti que tudo estava diferente.Muitos irmãos ja tinham ido embora,e nem deu pra me despedir.Mamãe nem falou nada.Me abraçou,me perguntou se ja tinha comido.Foi então,que ela me disse: "está na hora".

Num só impulso,ela me fez abrir as asas,e quando me dei conta,já estava planando alto,e um medo gélido me tomou conta.Senti que estava livre afinal,no lugar onde sempre sonhei estar.Pronta pra descobrir tudo o que sempre quis saber.

Mas mamãe ficou no ninho.Ali eu vi que para se estar pronto,é preciso ter na consciencia de que para sobreviver,é preciso ser forte sozinho.É preciso ter condições de viver sem a dependencia de alguém.É preciso saber voar com suas próprias asas.

Eu quis voltar.

Mas quando vi o rosto de mamãe,tão orgulhosa,tão feliz,que apesar de estar triste com essa despedida,senti o amor que atravessou dezenas de metros que nos separavam.

Adeus,mamãe...um dia eu volto pra casa.



(dedico à galera da minha igreja. sinto falta desesperada de todos vocês!!!)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Espelhos



Dois irmãos foram ao parque.Ele acabara de chegar na cidade.

Todos foram na inauguração,e em meio a tanta gente,palhaços,cores,música,luzes e magia,ficaram perdidos em qual brinquedo iriam primeiro.

Seus amigos foram logo na roda gigante,queriam ver quem teria mais medo de altura ou quem vomitaria mais rapido.Mas eles ficaram ali mesmo,olhando as grandes voltas que a roda dava.

"Você quer ir embora?Podemos voltar pra casa se quiser."

"Eu quero ir ali."

Era uma tenda,sem placas,nem avisos.Não tinha ninguém por perto,e talvez,a direção do parque tivesse esquecido de terminar de montar a atração.

Mesmo assim entraram,e se surpreenderam ao ver que lá dentro tinha uma quantidade enorme de espelhos,de todos os tipos,formas e tamanhos.Todos muito empoeirados,e alguns ainda cobertos com lençóis.

Eles se viram gordos,magros,largos,altos,retangulares,deformados e achatados.Para cada espelho,parecia uma realidade,um mundo privado,em que nenhum invadia o outro.

Pedro,o sonhador,sentou-se em frente do espelho mais bonito.Ele tinha uma moldura enorme dourada,cheia de detalhes,desenhos florais.Mas o espelho em si estava enferrujado,cheio de manchas,e mostrava um mundo tão feio,sujo,descuidado.Exibia reflexos de uma realidade tão apagada,deformada...

Ele começou a chorar.

Seu irmão mais velho que viu aquilo tudo,foi saber o que estava acontecendo com seu caçula.Ele se sentou ao lado dele e ficaram observando aquela imagem tão feia.E ele entendeu a agústia de seu irmãozinho.

"Sabe...é ruim a gente enxergar uma realidade feia e manchada.A gente vê tudo tão torto,tão diferente.Nossos olhos piscam,se esforçam pra ver algo belo,mas não conseguem.A gente prefere acreditar no que um reflexo nos diz.Um reflexo de um espelho tão belo em sua moldura,mas que mostra tudo o que nossos olhos não gostariam de enxergar.Coisas feias,tortas,amargas.

E o tempo passa,e a gente acaba viciando nesse reflexo.Por que é cômodo simplesmente sentar na frente dele e acreditar no que ele nos mostra.É cômodo esperar que ele nos mostre a vida,por que assim,não temos  a necessessidade de vivê-la.Apenas assisti-la,como espectadores.

Mas veja só...pra cada espelho,você vê um reflexo diferente!Pra cada espelho,existe uma vida a ser vivida,uma história,uma estrada.E às vezes são tantos os espelhos nos mostrando realidades diferentes(e tao opostas muitas vezes) que não sabemos qual escolher.Aí,escolhemos aquele que mais nos convém.Aquele que mais nos agrada.

E quem vai escolher um espelho que nos mostra uma vida suja,enferrujada e empoeirada?Ninguém,né...E assim,culpamos os espelhos por nao estarem como a gente quer,por não estarem no nosso controle.Afinal,espelhos só mostram o que eles vêem,independentes de serem bons ou maus.O reflexo é algo fatídico,mas também irreal.

O reflexo é apenas um reflexo.

E um espelho,um instrumento.

Não são como janelas por exemplo.Pois elas nos mostram a realidade.Espelhos nos mostram a ilusão.

Por isso,Pedro,é que eu acho que mais errado do que uma espelho que mostra algo feio,é quem acredita e que assiste a vida através dele.Se ele mostra algo torto,é por que o espelho é torto,não a vida."

Pedro se levantou,abraçou seu irmao,e os dois saíram da tenda.

"É,agora eu entendi por que eles não abriram a tenda dos espelhos para o público.Ainda bem que conseguimos sair dela!"

Dizendo isso,viram o mundo belo que seus olhos viam,e não o mundo que espelhos enferrujados mostravam.

(é melhor ver o feio vivenciando o feio do que enxergar o belo sem poder senti-lo)